Jornal Record 31 março 2023
O conhecimento não poderá ser encarado como algo de estático, mas como um processo em que um sujeito dinâmico procura organizar uma realidade. Tal como na ciência nasce da necessidade que o Homem tem de dominar e compreender a realidade que o cerca. O futebol não poderá ser encarado como algo de inerte, mas como um processo em que um sujeito dinâmico procura organizar uma realidade. A ciência nasce da necessidade que o Homem tem de dominar e compreender a realidade onde se insere.
Após a realização de dois jogos, apenas dois jogos, da Seleção Nacional de Futebol, não podemos, de alguma forma, deixar de ficar surpreendidos pela enfase (excessivamente?) positiva que alguns analistas estão a dar a algumas medidas e alterações efetuadas na nossa seleção principal. É evidente que, quando estão sempre a concordar connosco, sem apresentar fundamentos divergentes, é melhor escolher outras leituras, frontais e independentes. A lealdade não é uma prisão de ideias, mas antes um espaço de liberdade para encontrar os melhores rumos. Apontando, embora, para uma dimensão subjetiva, o futebol não parte do zero. Ele integra sempre no jogo uma tradição, assumida e expressa de um modo pessoal.
"A verdadeira dimensão da técnica repousa na sua utilidade para servir a inteligência e a capacidade de decisão tática dos jogadores e das equipas. Um bom executante é, antes de mais, aquele que é capaz de selecionar as técnicas mais adequadas para responder às sucessivas configurações do jogo. Por isso, o ensino e o treino da técnica no Futebol, não devem restringir-se aos aspetos biomecânicos, mas atender sobretudo às imposições da sua adaptação inteligente às situações de jogo. Nesta perspetiva, afigura-se mais importante saber gerir regras de funcionamento, ou princípios de ação, do que utilizar técnicas estereotipadas ou esquemas táticos rígidos e pré-determinados” (Garganta, 2001)."
Esperemos, sinceramente, que com tanta “lufada de ar fresco” não acabemos por nos constipar.