Jornal Record 26 abril 2024

Hoje, não poderia deixar de aproveitar esta oportunidade que o jornal Record me proporciona para tecer algumas considerações, relativamente ao 25 DE ABRIL.

Nessa altura, estava no cumprimento do serviço militar “OBRIGATÓRIO” em Angola integrado na 1ª Companhia do Batalhão de Artilharia 6321, numa localidade chamada à altura, Luvuei. agora não sei como se chama, situada entre Luso e Gago Coutinho também designada como “quadrado da morte” por se situar no extremo leste do mapa de Angola e também, por se tratar dum local onde, em determinada altura, existiram significativas baixas para o nosso exército.

Claro está que, quando o acontecimento nos chegou ao conhecimento, que como devem calcular, nos chegou nos dias seguintes, ficamos atónitos. Uma grande maioria da companhia, não fazia sequer a ideia de que se tratava duma revolução. Ficamos a aguardar por notícias oficiais que nos chegaram paulatinamente, embora alguns dos meus camaradas, especialmente os da margem sul do tejo estivessem melhor informados relativamente ao assunto em questão.

Tivemos de aguardar, receber no nosso aquartelamento os elementos em separado da UNITA, MPLA e FNLA e aguardar por instruções do respetivo comando, para procedermos em conformidade. Tivemos oportunidade de discutir com os nossos adversários as estratégias anteriormente utilizadas enquanto inimigos, tendo recebido elogios pela nossa disciplina operacional, enquanto durou o período de guerrilha a que fomos submetidos. Regressamos a Portugal um ano depois do 25 de abril.

Espero sinceramente, que não esteja sujeito a qualquer tipo de indemnização para com os Angolanos pelo facto de ter servido Portugal enquanto militar, ou que os meus filhos venham a ser responsabilizados, ou os filhos daqueles que exerceram funções na qualidade de Ministros do Ultramar ou Governadores Gerais num desses Países ultramarinos.

Quando perdemos demasiado tempo a comer gelados, acabaremos por não dar rumo a um conjunto de coisas de vital importância.