Jornal Record 29 março 2024
A política tem acolhido no seu seio variadas figuras que, pelo partidarismo exacerbado, têm direito ao palco mediático em vários canais televisivos para discutirem a política. Na maioria dos casos, com todo o respeito para quem se disponibiliza para estes programas, a finalidade reporta-se a comentar duma forma desigual a atuação dos governantes e líderes partidários. A frase menos bem arrumada, a palavra menos oportuna, o gesto não tão bem enquadrado, a intensidade ou até a intencionalidade da palavra, servem para nos tentarem convencer, de acordo com o partido que representam, a acompanhar o seu pensamento.
A democracia vive, porventura, um dos seus momentos mais complexos. A crise económica e social é cada vez mais real e atinge, apesar de muitos esforços, cada vez mais famílias e cidadãos. Percebemos que não há espaço, no mundo, para tantos bancos e para tantas fraudes. Sentimos que existem vozes excessivas a mais e, porventura, vozes regenerados a menos. E aquela complexidade e esta angústia expressa-se por sinais. Perde-se o sentido da dignidade humana. Não se respeitam os outros. Não se interioriza o reconhecimento e não se pratica o agradecimento.
O que se passou esta semana na Assembleia da República deverá convocar cada um à reflexão sobre os ideais de “Abril” e sobre a preservação dos mesmos. Numa altura em que se aproxima o cinquentenário da Revolução dos Cravos, nada fazia prever que estivéssemos a viver tal “paródia” no local que deveria ser o mais importante e digno do maior respeito, nomeadamente pelos políticos que elegemos, que têm obrigação de saber que ninguém é suficientemente inteligente para se dar ao luxo de poder ser intolerante.
Todos sabemos que o descontentamento se virará sempre contra o mensageiro quando a mensagem não é a que gostaríamos de ouvir. O melhor era todos sermos capazes de encontrar soluções para todos os problemas. Talvez ainda melhor fosse encontrar soluções que não contivessem em si mesmas outros problemas, porque não se conhecem soluções sem problemas.