Jornal Record 17 fevereiro 2023

No dia oito de fevereiro, foi apresentado no IPDJ, em Lisboa, o primeiro de quatro volumes da obra seleta de Manuel Sérgio, por um grupo de especialistas e estudiosos, que se interessam por aquilo que foi dito e escrito por esta grande figura das ciências humanas em Portugal, nomeadamente, na grande importância que teve para o desporto nacional, especialmente para o futebol.

Bastantes são aqueles que bebendo das suas ideias iniciaram uma nova era do treino em Portugal, acrescentando, o que foi possível, aos seus conhecimentos, empíricos ou científicos, de acordo com a formação de cada um. Provavelmente, José Maria Pedroto, foi dos primeiros a questionar a eloquência do pensamento deste estudioso, que mais tarde foi ouvido, especialmente no ISEF – agora Faculdade de Motricidade Humana –, por alguns daqueles que hoje estão a dirigir equipas de futebol, quer em Portugal, quer no estrangeiro. De referir que o próprio nome do estabelecimento de ensino foi modificado, dada a importância que os responsáveis pela educação em Portugal quiseram reconhecer ao grande promotor da ciência para o treino desportivo.

A Ciência da Motricidade Humana (CMH) é, para Manuel Sérgio e para a Sociedade Internacional de Motricidade Humana, uma nova ciência social e humana. Para eles, a “educação física”, epistemológica e ontologicamente, não existe, porque não existe uma educação unicamente de físicos. No entanto, nas aulas e em conversas particulares, já foi chamando também à CMH um “híbrido cultural”, misto de ciência, tecnologia, arte, filosofia e senso comum.

De igual modo, e de acordo com o que este autor defende há mais de 30 anos, a própria “preparação física” do desporto altamente competitivo não tem sentido, já que o treino se deve subordinar a um modelo de jogo, onde são trabalhados simultaneamente os vários aspetos do ser humano.

Fica o legado de um génio e de um maior ser humano, a quem o desporto, em geral, e o futebol em particular, muito lhe devem.