Jornal Record 05 Novembro 2021

Não é verdadeira a afirmação de que a formação de um profissional de qualquer área deva ser sempre resultante da permanência, durante alguns anos, em carteiras de madeira dura, ainda que a mesma seja crucial e imprescindível no processo formativo de qualquer profissional. Reconhecemos que esse esforço e dedicação ao estudo faz jus a um meritório diploma. Mas, também, será justo reconhecer que o talento, a constante e permanente prática de uma função possibilita experiência, competência e cultura que nos merecem crédito e respeito.

Dizia, ou melhor, escrevia um dia destes o árbitro, Duarte Gomes, que sempre respeitei – não por ser isento de erros, mas pela sua postura – que “com uma tecnologia tão sofisticada, não é aceitável que se cometam erros grosseiros em lances tão cristalinos. A vídeo-arbitragem aumentou-lhes a exigência e diminui-lhes a tolerância”.

Aqui chegados, embora sejam as arbitragens demasiado escalpelizadas, não é possível dissocia-las das inerentes análises que, devidamente enquadradas e dentro dum espírito respeitador e urbano, refletirão a qualidade das mesmas dentro das quatro linhas.

É-se, assim, levado a pensar que há um modo de ser bom no qual nos devemos posicionar se procurarmos a virtude de sermos competentes no que nos propomos realizar, ou seja, há um dever-ser que se nos impõe e, face ao qual, pouco temos a dizer senão sê-lo, de facto.

Mas o “saber” nunca o será verdadeiramente se da reflexão, da autocrítica e do confronto entre o que é e o que se pensa que deveria ser; entre o que se faz e o que se admite que se deveria fazer, não resultar um processo evolutivo individual e coletivo, que nos conduza à aceitação de que o próximo até poderá ter razão na análise que dirige a determinada realidade.

Necessitamos, portanto, de melhorar a comunicação entre os principais agentes do futebol e construir uma plataforma para desbloquear a mudança que se impõe. Temos que esvaziar a possibilidade de suspeita relativamente à nossa atividade, sem que o simples exercício do direito de opinião, construído a partir da objetividade que os factos aportam, seja tido ou considerado como um ataque ou sequer ofensa à honra e bom nome de quem quer que seja.